Os núcleos de base socialistas: contribuição do núcleo PSOL UFMG ao 3º Congresso

O PSOL aproxima-se, com a realização de seu 3º Congresso, em dezembro, de um momento crucial: trata-se de grande oportunidade para aprofundar o debate interno sobre concepção de partido e, a partir daí, estabelecer um diálogo mais coeso entre sua militância. É nesse sentido que nós, do Núcleo PSOL UFMG, defendemos a ampla adoção dos Núcleos de Base Socialistas como melhor alternativa para a consolidação de um PSOL, cujo diálogo não esteja restrito a uma pequena "vanguarda iluminada", mas que consiga, a partir do diálogo capilarizado com os que se sentem estranhos à mercantilização da vida, comprovar-se como alternativa socialista coerente e viável em nosso país.
Entendendo que a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio ocupou importante papel na reorganização interna do partido, estimulando a filiação de novos militantes e a formação de grupos comprometidos com a construção do PSOL e do socialismo – nosso núcleo é prova viva desse processo – sustentamos que a partir do 3º Congresso nosso partido fundamente-se de forma mais sólida quanto à sua estrutura de militância. Para tanto, propomos difundir a concepção formulada em seu documento Notas sobre o funcionamento dos Núcleos de Base.
Afinal, a que serve uma estrutura partidária baseada nos Núcleos de Base – NBs? Plínio elenca quatro funções principais:
·         viabilizar a participação efetiva de tod@s @s militantes nas decisões de todas as instâncias partidárias;
·         articular, nos diversos meios sociais em que o partido atua, a ação política e a ação cultural voltadas para a conquista da hegemonia dos valores e propostas socialistas na sociedade - condição esta da liberdade das pessoas e da democracia na transição socialista;
·         tornar-se a referência do PSOL, no meio social sob sua responsabilidade, tanto em relação às atividades de reivindicação como nas campanhas eleitorais;
·         constituir a base da prática formadora de militantes socialistas.
É fácil perceber como essa iniciativa pode auxiliar o PSOL a aproximar-se de forma mais orgânica das lutas da sociedade e dos movimentos sociais. Seria assim, possível completar um esforço dialético de compreender e alimentar-se dessas mobilizações, que podem mostrar-se limitadas quanto ao escopo de sua crítica, e necessitam de um instrumento capaz de aprofundar a análise e de congregar os atores envolvidos sem que essa união seja rasa ou superficial: o partido.
Deve-se ressaltar que a formação dos NBs não está necessariamente vinculada ao espaço onde @ militante passa a maior parte do seu tempo. Nesse sentido, a atuação política das pessoas envolvidas num núcleo deve estar atrelada ao seu cotidiano, no meio social em que possuam organicidade e capacidade de convencimento, para disputar a hegemonia e disseminar o discurso socialista. Exemplos de locais propícios para a criação e o desenvolvimento de um núcleo são, pois, o bairro de uma cidade grande ou parte dele, o território de uma cidade pequena, um distrito rural, uma fábrica, um hospital, um sindicato, uma faculdade, etc.[1]
Muit@s poderiam se perguntar que lugar ocupam os NBs na estrutura organizativa do PSOL: não há polêmica nesse sentido, pois um núcleo de base não visa substituir as instâncias do partido, como plenárias, encontros, conferências e congressos. Tampouco substitui os acúmulos conquistados dentro desses espaços: a função do núcleo é justamente potencializar o alcance e a profundidade dos debates nesses fóruns específicos. A alta capilaridade garantida por uma estrutura baseada nos NBs permite @s militantes ocupar uma posição social privilegiada capaz de romper com a velha dicotomia teoria-prática, num movimento em que organização, esclarecimento e luta (usando as palavras de Rosa Luxemburgo) fazem parte de um mesmo momento de inserção e disputa das ideias socialistas na sociedade.
Para ilustrar nosso ponto de vista é interessante realizar um pequeno relato a respeito da experiência do Núcleo de Base do PSOL na UFMG. Em seu curto período de existência – um ano neste novembro – este núcleo já demonstrou que os NBs são de fato instrumento fundamental para a formação dos membros do partido; para reflexão acerca da conjuntura política local, municipal, nacional; para o processo de organização e estruturação do partido em instâncias maiores, e, por último, para a construção do PSOL como referência na discussão de valores socialistas e democráticos.
Formado logo após a campanha presidencial de 2010, na esteira do debate proposto por Plínio em sua candidatura sobre as verdadeiras mudanças que o Brasil necessita, o núcleo de base do PSOL na UFMG nasceu da vontade de integrantes e simpatizantes do partido de trazer essas questões para uma realidade mais imediata. Outro aspecto relevante a ressaltar é a rejeição às formas tradicionais de movimento estudantil presentes na UFMG, que variavam entre um grupo governista e uma oposição surda e dogmática.
 À medida que as reuniões sucediam-se, vários aspectos da luta política eram discutidos, desde a atual estrutura partidária do PSOL até concepções de socialismo e organização, nomeadamente a visão leninista e a de Rosa Luxemburgo. Temas como centralismo democrático, espontaneísmo das massas, partido vanguardista e revolução foram frequentemente debatidos e, como uma decorrência natural deste processo, interiorizados no modo como os integrantes lidavam com a conjuntura política à sua volta.
Acontecimentos políticos tanto na UFMG como em Belo Horizonte não faltaram. Desde o primeiro momento, o NB UFMG manteve diálogo com as correntes políticas de esquerda da cidade, tratando de temas como o aumento das passagens de ônibus, assistência estudantil, políticas de incentivo à cultura, luta antimanicomial e saúde. A inserção política na cidade também se fez com uma presença cada vez mais estruturada na instância municipal do partido, que foi de grande valia para uma reestruturação do diretório municipal em BH. No ano de 2011, foram realizados vários eventos, para o público interno e externo, que visavam dialogar com os diversos setores da sociedade, além de formar e informar os noss@s militantes e inserir o PSOL ativamente nas questões da cidade, como, por exemplo: o movimento “Fora Lacerda”, a comemoração dos 140 anos da Comuna de Paris, a Luta Antimanicomial 18 de Maio, a greve dos trabalhadores em educação da rede estadual e as atividades “PSOL convida”.
Após a construção desses espaços, podemos dizer que neste ano o PSOL-BH consolidou-se como instância defensora dos valores socialistas na cidade, exatamente um dos objetivos do partido que Plínio explicita em seu texto. Ao constatar que o NB PSOL UFMG teve um papel importante nesse processo, compreendemos também a força formadora que os núcleos de base possuem para o propósito socialista do PSOL. A abordagem simultaneamente capilar, específica e intensa que a experiência de núcleos de base traz para a construção do partido e de uma consciência socialista é, ao  nosso olhar, essencial para dar conta da heterogeneidade tão característica da nossa vasta realidade brasileira.
Por todos os argumentos aqui apresentados, reiteramos a importância dessa forma de organização para a vitalidade do partido, e defendemos não só que @s militantes do PSOL organizem-se em Núcleos de Base, mas que estabeleçam entre esses grupos um diálogo constante e intenso, uma verdadeira e ampla rede nacional de núcleos, que possibilite aprofundar nosso debate e, com isso, estabeleça-nos como uma alternativa socialista e libertária para o Brasil.
Ver mais:
http://psolufmg.blogspot.com/p/notas-sobre-o-funcionamento-dos-nucleos.html


[1]           Defendemos também noção ampliada de organização dos núcleos, baseada no conceito de meio social como espaço material e subjetivo que produz e reproduz uma sociabilidade compartilhada mais ou menos  por seus sujeitos, que  não se  restringe a visão clássica de organização por local de trabalho, estudo ou moradia. Em outras palavras, também devem ser considerados meios sociais para organização de núcleos de base socialistas: um bar, parque, uma roda de conversa, redes sociais na Internet, etc.


Assinam esse documento filiad@s e simpatizantes do PSOL:
André Henrique de Brito Veloso, 
Anna Laura de Almeida, 
Douglas Silva, 
Ellen Naiara Oliveira Rodrigues, 
Fernando Conde Veiga, 
Guilherme P. Salles, 
Gustavo Laine Araújo de Oliveira, 
Ian Coelho de Souza Almeida
Joyce Garófalo e Santos, 
Paula Moraes Coradi, 
Paulo ferro, 
Pedro Henrique do Amaral, 
Pedro Henrique Raidan Vieira, 
Raiam Maia e Maia, 
Ricardo Miranda Burgarelli, 
Ricardo Takayuki Tadokoro, 
Rodrigo Crepalde (China), 
Sergio Domingues, 
Tomás Lima Pimenta. 

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