Escrito por Reinaldo A. Carcanholo |
Quarta, 07 de Dezembro de 2011 |
Como dissemos, a idéia de capital humano deriva da mesma ilusão provocada pelo capital a juros e que dá nascimento ao capital ilusório. Só que aqui se trata de uma simples e pura mistificação produzida e mantida pelo pensamento neoliberal. Em um excelente artigo de Alain Bihr denominado “A fraude do conceito de capital humano”, publicado pelo Le Monde Diplomatique (Brasil) de 5 de dezembro de 2007, o autor identifica a origem da idéia: “Devemos a noção de ‘capital humano’ ao economista americano Theodor W. Schultz, que a inventou nos anos 50. Ela foi popularizada por seu colega e compatriota Gary Becker.” E o autor continua, explicitando quando se difundiu: “Por muito tempo confinada ao círculo estreito dos economistas neoclássicos, a noção de ‘capital humano’ se difundiu a partir dos anos 80 para se tornar um dos conceitos favoritos dos teóricos dos ‘recursos humanos’ e das agências de recrutamento. Ela ocupa hoje um lugar privilegiado no vocabulário dos políticos...” O sitio http://pt.goldenmap.com/Capital_humano é mais explícito sobre o tema e mantém, também, uma atitude crítica sobre a idéia: “O conceito de capital humano tem origem durante a década de 1950, nos estudos de Theodore W. Schultz, (1902 - 1998), que dividiu o prêmio Nobel de Economia de 1979 com Sir Arthur Lewis. O conceito foi desenvolvido e popularizado por Gary Becker e retomado, nos anos 1980, pelos organismos multilaterais mais diretamente vinculados ao pensamento neoliberal, na área educacional, no contexto das demandas resultantes da reestruturação produtiva. Deriva dos conceitos de capital fixo (maquinaria) e capital variável (salários). O "capital humano" (capital incorporado aos seres humanos, especialmente na forma de saúde e educação) seria o componente explicativo fundamental do desenvolvimento econômico desigual entre países”. Faz uma referência a passagem d’O Capital que, embora mal citada e não localizada, por ser interessante vale a pensa registrar: "Economistas apologéticos (...) dizem: (...) a sua (do trabalhador) força de trabalho é, portanto, ela mesma, seu capital em forma-mercadoria, da qual lhe flui continuamente seu rendimento. De fato, a força de trabalho é a sua (do trabalhador) propriedade (reprodutiva, que sempre se renova), e não o seu capital. É a única mercadoria que ele pode e tem que vender continuamente para viver, e que atua como capital variável apenas nas mãos do comprador, o capitalista. Que um homem seja continuamente compelido a vender sua força de trabalho, isto é, ele mesmo, para outro homem, prova, segundo esses economistas, que ele é um capitalista, porque constantemente tem "mercadorias" para vender. Nesse sentido, um escravo também é um capitalista, embora ele seja vendido por uma outra pessoa, mas sempre como mercadoria; pois é da natureza dessa mercadoria, o trabalho escravo, que seu comprador não só a faça trabalhar de novo a cada dia mas também lhe dê os meios de subsistência que a capacitam a trabalhar de novo e sempre." (MARX, Karl . O Capital, vol. II, capítulo XX, seção X) Muito sugestivo: até os escravos possuíam ou possuem capital humano. Melhor até que essa passagem, encontra-se uma no livro III d’O Capital, cap. XXIX, em que fica clara a relação entre a ridícula idéia de capital humano e a ilusão provocada pelo capital a juros, ilusão essa que origina o capital ilusório. Além disso, localiza a origem da idéia (embora não da expressão “capital humano”) não depois do século XVII(!): “Chega-se a considerar o salário como capital que rende juro e, em conseqüência, a força de trabalho como capital que rende esse juro ... O absurdo da concepção capitalista atinge aí o apogeu: em vez de explicar a valorização do capital pela exploração do trabalho, ao contrário, explica a produtividade da força de trabalho com a circunstância de possuir essa força o dom místico de ser capital que produz juro. Essa idéia esteve em moda na segunda metade do século XVII (Petty, por exemplo), mas hoje em dia é utilizada ainda com seriedade imperturbável pelos economistas vulgares e principalmente pelos estatísticos alemães. Duas circunstância desagradáveis (que pena!) lançam por terra essa concepção insensata: primeiro, o trabalhador tem de trabalhar para receber esse juro e, segundo, não pode mediante transferência converter em dinheiro o valor-capital da força de trabalho”, Marx (livro III, p. 536) Marx chegaria a se surpreender mais ainda se tivesse a oportunidade de saber que um certo senhor teria reinventado a idéia no século XX, idéia que existia desde o XVI(!), e que até hoje é repetida por economistas medíocres e por outros também. Agora ganhou status de conceito ou categoria: capital humano! Aparece no arsenal dos vocábulos de todos aqueles que querem impressionar, “com seriedade imperturbável”, os ouvintes que se supõem mais ignorantes. Talvez por esse feito, o tal senhor tenha recebido o prêmio Nobel. Reinaldo A. Carcanholo é professor da UFES e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Economia Política - SEPLA. |
domingo, 18 de dezembro de 2011
Apontamentos sobre a ridícula idéia de “capital humano”
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