RANDOLFE RODRIGUES
A deposição, por parte do parlamento do Paraguai, do presidente Fernando Lugo é um grave atentado à democracia.
O julgamento realizado pelo Congresso Nacional paraguaio, liderado pelos
partidos conservadores daquele país, teve como objetivo desestabilizar a
democracia e recuperar os privilégios das elites paraguaias, impedindo a
conclusão do mandato do presidente poucos meses antes das eleições.
Isso explica o rito sumário que sequer assegurou condições mínimas de defesa ao presidente acusado.
Os recentes conflitos nos quais morreram uma dezena de camponeses
merecem investigação e punição dos culpados, mas não podem servir de
pretexto para um golpe parlamentar por parte daqueles que governaram o
Paraguai por décadas, usando a violência e o autoritarismo como método.
Esses setores não têm condições morais nem políticas para depor um
presidente eleito em nome da democracia. A comunidade latino-americana
está perplexa com mais esta ruptura da ordem democrática na região,
agora no Paraguai.
Ainda estão vivos na memória de todos os defensores da democracia no
continente o golpe perpetrado contra o presidente de Honduras, Manuel
Zelaya, em 2009, e a tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez
em 2001.
Foram medidas que buscaram desestabilizar governos democraticamente
eleitos pelo voto popular, que tinham como pano de fundo os interesses
econômicos e políticos das potências --em especial dos Estados Unidos--,
que têm apoiado ações para retomar o terreno perdido na América Latina
nos últimos anos.
Nosso país já experimentou esse conhecido caminho: golpe de Estado, em
pretexto para cumprir a Constituição, seguido de uma ditadura que manda
cidadãos para a cadeia, para o exílio, para a tortura e para os
cemitérios.
Por isso, não podemos ficar passivos, já que qualquer tentativa de
diminuir o significado do golpe de Estado no país vizinho incidirá, num
futuro próximo, na democracia do resto da América Latina.
Assim, o Brasil deve responder com firmeza, repudiando taxativamente a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo.
É papel dos países vizinhos garantir medidas que tenham como objetivo
reestabelecer a ordem democrática no Paraguai e, concomitantemente, não
prejudicar o povo daquele país --que se vê mais uma vez diante de um
processo de desestabilização política com repercussões econômicas.
Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e Cuba já declaram não reconhecer o governo golpista.
Em nosso entendimento, o Brasil deve seguir o mesmo caminho e apoiar as
medidas que buscam excluir o governo ilegítimo do Paraguai da Unasul e
do Mercosul.
Neste momento de ataque à democracia do Paraguai, o governo brasileiro
deve adotar medidas diplomáticas e de articulação política com todos os
demais países da América Latina com o objetivo de restabelecer o Estado
de Direito e a normalidade democrática em nosso país irmão.
RANDOLFE RODRIGUES, 39, historiador, é senador pelo PSOL-AP é membro da Comissão de Relações Exteriores do Senado
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