Por Chico Alencar
“Um ano novo melhor? Desconfio que o ano é que está esperando que nós sejamos melhores!”, questionava a esperta menina Mafalda – criação do argentino Quino, um espécie de Messi dos quadrinhos. É isso: o calendário, engenhosa invenção humana para contagem do tempo, pode nos servir para um balanço do já vivido e para traçarmos metas de superação. Para crescermos como gente e, com isso, melhorar o mundo, que anda bem precisado.
O tempo da História não é igual ao nosso, individual. Dona História, senhora elegante e distante, é mestra de alunos desatentos, quando não cabuladores de suas aulas. Pouco aprendemos com ela. Se nem sempre nos interessamos em interferir nos seus caminhos, que ao menos consigamos nos transformar no plano pessoal. E sermos mais inteiros, isto é, mais íntegros.
Traço metas para 2012, inspirado pelos tropeços e pelo que aprendi com pessoas iluminadas que Deus colocou na minha vida. Compartilho com você, também para que você me ajude a cumpri-las, assumindo as que julgar adequadas à sua estrada.
Quero caminhar com calma bovina e leveza de garça, para ficar imune à doença do século, a ansiedade. Ter determinação de onça na caça e a cristalina serenidade do riacho onde ela vai beber água. Ser como a flor do campo, que nada inveja, a quem bastam sol e chuva. Saber-me, sempre e mais, pedra, árvore, húmus, rio: não ter nada a perder. Cuidar de ser saudável, fraternizando-me com tudo o que tem patas, asas e raízes, com espírito e matéria em perfeita comunhão. Aprender com todos os seres vivos, que não ‘malham’ o corpo para a vaidade, mas fazem do esforço pela sobrevivência o exercício decidido de cada dia, sem carecer de antidepressivos ou acumular preocupações e gorduras. Resistir ao consumismo que consome: fazer do necessário o suficiente, e viver mais simplesmente, para que simplesmente todos possam viver.
E, claro, agregar a essa busca de nossas origens rasteiras e cósmicas, de formigas e estrelas, o que nos distingue como humanos: a ternura, a solidariedade e a arte. É isso que faz de nós a melhor parte.
Pés no chão, descalços de preconceitos e maledicências, conseguiremos olhar com franqueza nos olhos dos outros, restabelecendo a comunicação presencial. Só ela, vital, pode nos fazer dispensar por bom tempo a telinha obsessiva do celular, com a qual cada vez mais gente preenche mentirosa e freneticamente o vazio da existência. Para onde vou, para onde vamos? Para o imprescindível território da utopia, para o porto onde atracam nossos sonhos de uma sociedade diferente, igualitária, ecologicamente equilibrada e plural. Para a área que nenhuma tecnologia da moderníssima comunicação alcança, onde é possível conectar-se com o Todo Poderoso Amor.
Chico Alencar é professor de História, deputado federal (PSOL/RJ).
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