Plínio Arruda Sampaio
Entre
vários fatores que determinam a perpetuação da pobreza no Brasil,
destaca-se o sistema de ensino, cuja característica resume-se no
seguinte: educação básica, fundamental e média particular de boa
qualidade acessível apenas a alunos provenientes de famílias ricas; e
educação superior pública de boa qualidade de difícil acesso para os
alunos que não são oriundos das escolas particulares de qualidade. Essa
realidade significa a condenação dos meninos e meninas pobres a empregos
menos remunerados entediantes, perigosos e insalubres.
Esse muro
de desigualdade que impede o pobre de disputar um emprego bom precisa
ser derrubado. O instrumento principal para promover essa derrubada é
acabar com a mercantilização da educação, um processo que não poderá
terminar no período de um mandato, mas que pode e deve avançar bastante
num período de quatro anos.
Uma das prioridades, sem prejuízo das
medidas destinadas aos demais níveis, deverá ser dada neste primeiro
momento ao nível superior. Atualmente, 90% do ensino superior é
ministrado em instituições privadas, sendo que 70% destes são “negócios”
que fornecem ensino de baixa qualidade a preço elevado.
A
primeira providência para solucionar este problema é eliminar toda
transferência (direta e indireta) de recursos públicos para essas
“indústrias”. Isto exigirá uma reconstrução do PROUNI, cujo primeiro
passo consistirá em aumentar o número de vagas das faculdades públicas e
destinar as verbas hoje doadas a empresas de educação para essa
ampliação.
Paralelamente, será necessário deter a privatização
disfarçada dos centros universitários públicos (mediante convênios,
fundações e outros artifícios que colocam o pensamento da universidade
sob o controle do capital).
O Brasil não pode aceitar o projeto
de degradação da formação universitária brasileira gestado no Banco
Mundial com o objetivo de expandir o número de profissionais de nível
superior, mas formação limitada, de modo a pressionar os salários desses
profissionais para baixo, O REUNI materializa esse projeto e deverá ser
inteiramente revisto.
Se o Brasil gastar menos de 10% do PIB na
educação pública será impossível superar o atraso tecnológico e político
que separa das nações desenvolvidas.
Julho de 2010.
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