sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O porquê e o como: considerações para um novo Movimento Estudantil na UFMG

por Pedro Raidan, Quinta, 8 de novembro de 2012 às 19:44
O ultracentralismo preconizado por Lênin parece-nos, em toda a sua essência, ser portador, não de um espírito positivo e criador, mas do espírito estéril do guarda-noturno. Sua preocupação consiste, sobretudo, em controlar a atividade partidária e não em fecundá-la, em restringir o movimento e não em desenvolvê-lo, em importuná-lo e não em unificá-lo.
Rosa Luxemburg, Questões de organização da Social-Democracia Russa

Se muito vale o já feito, Mais vale o que será Mais vale o que será E o que foi feito é preciso Conhecer para melhor prosseguir Falo assim sem tristeza, Falo por acreditar Que é cobrando o que fomos Que nós iremos crescer Nós iremos crescer, Outros outubros virão
Fernando Brant, O Que Foi Feito Deverá

Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.
Jean Cocteau 

  Este texto é, antes de tudo, a proposta de um projeto coletivo. Político, ideológico, programático. Mas também a expressão dos anseios de alguém que percebe – nos mais variados sentidos e níveis –, uma crise no Movimento Estudantil, embora acredite ser perfeitamente possível mudar essa realidade.

         Acredita porque, apesar do ínfimo grau de legitimidade presente no Movimento Estudantil hoje, percebe as potencialidades de uma construção livre, horizontal e, principalmente, disposta a reinventar as estruturas de poder, as formas de decisão e a distribuir as responsabilidades das decisões políticas no âmbito da Universidade, reconquistando o papel de protagonismo que os estudantes organizados já demonstraram ter.
         Portanto, sejamos francos: já há algum tempo busca-se, na UFMG, alguma vitória de peso conquistada pela mobilização dos estudantes. O quadro é deplorável: assistência estudantil precária e privatizada, Restaurante Universitário com reajuste de quase 100%, iminente implantação da EBSERH, pessoas sendo despejadas da Moradia Universitária, instalação de catracas por todas todo o campus, proibição de festas, reformas e construção de novos prédios sem a mínima discussão com a comunidade, ausência de paridade nos órgãos colegiados... A lista dos problemas é imensa.
         E, mesmo assim, continuamos a insistir nas velhas práticas de um ME caduco e burocratizado. Somos derrotados dia após dia: alguns (poucos) gritam palavras de ordem (que ninguém ouve), escrevem alguns panfletos cheios de erros ortográficos (que ninguém lê), disputam eleições para DA e DCE (nas quais pouquíssimos votam) e o mundo continua a girar – e nós a nos prejudicarmos.
         E me pergunto: será mesmo que o corpo estudantil de uma das maiores universidades brasileiras é assim tão apático, tão incompetente? Creio que não. Contudo, penso ser importante considerar que a grande responsabilidade pelo afastamento progressivo da maioria estudantes da vida política na universidade cabe a algumas poucas, insistentes e autoritárias figuras. Percebo que há clara intenção de afastar-nos das decisões sobre o destino do ME, e da possibilidade de opinar sobre a postura dos representantes e órgãos estudantis. Interessa a inúmeros grupos políticos dentro da UFMG manter a situação como está, dando a impressão de que o ME é algo hermético, fechado, complicado, apenas para iniciados. A atual gestão de DCE, que muito criticou essa postura nos partidos de esquerda, nada fez para alterar esse quadro, posicionando-se fundamentalmente de forma conservadora e anti-democrática e, portanto, demagógica.
         Por tudo isso, escrevo esse manifesto. Acredito que para superar as velhas práticas do movimento estudantil de esquerda, para tornar os militantes sujeitos ativos, críticos e atuantes, para possibilitar uma real construção coletiva, aberta a novas experiências, é necessária a radicalização da democracia no ME. Rejeito o centralismo "democrático" burocrático presente em todas as principais organizações políticas dentro da UFMG e, portanto, também não concordo com qualquer forma de hierarquização entre os membros do ME. Penso que todos os sujeitos possuem igual capacidade de participar da tomada de decisões, de expressar suas opiniões e de contribuir para o coletivo. Defendo a horizontalidade. Chega de “lideranças” que falem em nome do todo, sem consulta, sem discussão. Para nós não há algo que não possa ser debatido e, consequentemente, votado.
Vejam bem: as eleições de DCE se aproximam e eu, como membro do Núcleo PSOL UFMG, gostaria de me manifestar a favor de um programa mínimo, que servisse de base para as discussões que se aproximam. Proponho, a partir de um ponto de vista básico para a esquerda democrática e, nesse sentido, amparado pelas discussões e pelos métodos do Núcleo:

a) Um Conselho de CAs e DAs regular e mensal;
b) Que esse conselho seja deliberativo e que suas decisões sejam superiores às da gestão;
c) Reuniões de DCE abertas e amplamente divulgadas;
d) Total transparência quanto às contas da gestão;
e) Por fim, a convocação de um Congresso Estudantil, que possa rediscutir amplamente as questões da Universidade e do ME: assistência estudantil e as fundações privadas, cotas e acesso ao ensino público, Portaria 034 e Código de Convivência Estudantil, Universidade pública e sua inserção no contexto da cidade de Belo Horizonte, impactos do REUNI na UFMG, ampliação e reforma das instalações da UFMG, democracia nos órgãos colegiados, etc

São medidas básicas, ainda incipientes para que se possa renovar o Movimento Estudantil na UFMG. Um enorme esforço nos aguarda, é provável que erremos muito, e que as críticas surjam dos mais diversos lados. Mantenhamo-nos firmes, contudo! Há de valer a pena! Por um ME amplo, transparente, plural e democrático!

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