Por Paulo Piramba- Ecossocialista PSOL
Sou do tempo em que consciência ecológica era não pisar na grama. Da
época em que celebrar a natureza era queimar uma “erva do norte” e
curtir o “flower power”. Definitivamente, eu era feliz e não sabia!
Hoje
vivemos em tempos muito mais bicudos. Ar, águas e solos poluídos. Mais
de 1 bilhão de pessoas sem acesso regular à agua e comida. Uma crise
social que invisibiliza um continente inteiro, a África, e que, mesmo
nos países mais ricos, expõe a incapacidade do modelo de civilização
dominante em acabar com a desigualdade. Como pano de fundo, temos uma
ameaça cada vez mais concreta e presente para o futuro da humanidade: as
mudanças climáticas provocadas pela intensificação do aquecimento
global.
Bombardeados diariamente por uma barragem de
informações, por vezes contraditórias, divulgadas aos borbotões pela
grande mídia, nossa consciência ecológica cresceu, mesmo que de forma
frequentemente confusa. Choramos pelos ursos polares (nada contra eles),
mas esquecemos rapidamente o destino dos desabrigados dos extremos
climáticos, como no caso dos refugiados ambientais do Morro do Bumba, em
Niterói, que, de abril para cá, ainda continuam desabrigados.
Esta
mesma grande mídia, cujo objetivo é exatamente confundir mais do que
explicar, divulga propaganda das mais diferentes empresas, dando conta
que, de ora em diante, todas têm “responsabilidade ambiental”,
justamente as mais devastadoras da natureza, por conta de suas
atividades.
Por outro lado, diariamente somos chamados também a
assumir nossa responsabilidade ambiental. Banho, só até 7 minutos e
fazendo xixi junto. Poupe energia, poupe água, poupe tudo pelo futuro
dos nossos filhos! E, suprema ignomínia, reduza o consumo de carne
bovina para reduzir a emissão de metano, e esqueça a sua cerveja, já que
são necessários 155l de água para cada litro de cerveja. Ou seja,
churrasco e consciência ecológica definitivamente não combinam!
Mas,
ao mesmo tempo, esta mesma mídia ocupa grande parte de seu espaço
fazendo propaganda exatamente daquilo que “exige” que você abra mão.
Compre, consuma, troque pelo último modelo, se endivide, quebre, mas
mantenha o mercado funcionando!
Não estou fazendo a apologia do
“foda-se ambiental”, ou da inércia, dada a incapacidade de resolvermos
individualmente a tragédia ambiental que bate cada vez mais forte nas
nossas portas. Uma parte da minha, da sua, da nossa responsabilidade é
exatamente a de mudarmos nossos hábitos de forma ecológica e racional.
Mas, isto é apenas uma parte.
Estamos inseridos em um sistema
que corre voraz e continuamente para manter e ampliar seus lucros. Para
isso, a humanidade é compelida a consumir o que não precisa. Pelo menos a
humanidade que pode ter acesso ao mercado, enquanto milhões são
deixados à sua margem.
Para manter ativa e operante esta
máquina, o modelo econômico capitalista atribui preço a tudo, explora
cada vez mais o trabalho alheio e exaure os recursos naturais do
planeta, já que a velocidade do lucro não guarda nenhuma relação com a
capacidade de renovação destes recursos. Essa máquina é movida a
combustíveis fósseis que despejam na atmosfera giga toneladas de gases
formadores do efeito estufa.
Essa gastança temerária e insensata
é de tal monta que, hoje, este sistema necessita de uma Terra e quse
mais um hemisfério para dar conta de suas necessidades. É um sistema
esbanjador de recursos, negligente com os efeitos do que e como produz
sobre o ambiente e irresponsável com os problemas socioambientais que
gera.
Por ser largamente hegemônico no mundo, ele é, sem sombra
de dúvida, o responsável pelos perigos que a vida no planeta enfrenta
hoje. Seu modelo de civilização, que nos trouxe até aqui, está acima e
além da capacidade do planeta. Qualquer solução real tem que passar por
esta avaliação e pela necessidade de o superarmos, substituindo-o por um
modelo alternativo, que resolva os eternos problemas de desigualdade
social, sem perder de vista os limites da natureza.
Mais do que
nunca, apesar do que se diga por oposto, a consciência social e política
está imbricada com a consciência ecológica. Achar que é possível
“domesticar” a voracidade do capitalismo, é atrasar as mudanças
necessárias. É vital que se entenda que não temos mais tempo sobrando! E
é nesse sentido que escolher exclusivamente essa ou aquela
responsabilidade faz toda a diferença.
Nossa responsabilidade
como habitantes do planeta, como parte da única espécie que pode acabar
com ela mesma e com a maioria das outras, mas principalmente como
cidadãos e cidadãs, é nos organizarmos coletivamente, e exigirmos a
mudança do sisterma que nos trouxe à beira do abismo, antes de darmos um
passo à frente. Pressionarmos os governos, para que resolvam a encrenca
que criaram, ou nós os derrubaremos.
Nesse sentido, nós,
brasileiros, somos especialmente responsáveis. Somos nós, ou pelo menos
80 e muitos porcento de nós que aprovamos o governo que, nunca na
história desse país, foi tão responsável com a degradação aqmbiental.
Somos nós que naturalizamos tanto a devastação na Amazônia, que
“comemoramos” quando “somente” 6.400km2 são desmatados.
Somos
nós que apoiamos a escolha da exploração do pré-sal como indutor do
desenvolvimento brasileiro nas próximas décadsa, mesmo que esse
“desenvolvimento” se dê às custas das catástrofes climáticas e
ambientais. Somos nós que apoaimos a criminalização da pobreza, via o
extermínio de populações negras e pobres, e viramos o rosto para as
condições de precariedade socioambiental em que vivem estas pessoas.
A
crise desta civilização que temos, tem contornos multifacetados, com
implicações econômicas, financeiras, alimentares, sociais e ecológicas.
Superá-la exige uma solução de conjunto. Não estabilizaremos a
temperatura média global neste sistema econômico, não porque ele seja
mau, mas porque sua lógica imediatista, de reprodução de lucros a
qualquer preço é incompatível com isso. Não se trata, assim, de uma
questão moral.
Nesse momento, ao mesmo tempo em que foi confiada
à delegação brasileira a missão de salvar o agonizante Protocolo de
Kioto, aquele que como uma célebre viúva, “foi sem nunca ter sido”,
nesse mesmo momento, o líder do PT na Câmara negocia a presidência dessa
Casa, dando em troca o regime de urgência na votação das modificações
no Código Florestal, que abre a possibilidade para mais devastação
ambiental. Estas modificações foram aprovadas em uma comissão especial,
cujo relator, do PCdoB, também faz parte da base do governo.
Além
das mudanças voluntárias em hábitos que foram estimulados pelo modelo
econômico, político e ideológico onde estamos inseridos, temos outra
responsabilidade. A minha, a sua, a nossa responsabilidade é a de dar um
basta a esta escalada de destruição planetária. Para isto existem lutas
a serem travadas, local e globalmente. Lutas que denunciem os limites e
responsabilidades do capitalismo. Lutas que apontem para a necessária
construção de uma nova sociedade, baseada na justiça e na igualdade
social, baseada no que existe de melhor na tradição socialista,
combinadas com a preocupação ambiental. Uma sociedade ecossocialista.
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