quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O paradoxo de Jevons

por Heródoto Barbeiro

William Stanley Jevons foi um economista inglês que viveu no Século XIX. Ele observou que  a maior eficiência das máquinas à vapor não diminuía o consumo de carvão. Aumentava. Com motores mais eficientes aumentou o emprego dessas máquinas na indústria e no transporte e com isso era necessário produzir muito mais carvão. A poluição aumentou e as cidades ficaram cinzas. A expressão “paradoxo de Jevons” passou a se referir a qualquer situação em que melhorias de eficiência levavam a mais consumo e não a menos. Se o paradoxo for aplicado ao avanço das comunicações via internet, chega-se a conclusão que com o uso do e-mail, Skipe, Twitter ou Facebook, se gasta muito mais tempo transmitindo informações. Teoricamente essas ferramentas economizariam tempo, mas sua eficiência nos faz mandar muito mais mensagens do que na época do telégrafo, telex, carta, ou sinal de fumaça.
Outro exemplo cruel é o contado por Glaeser no livro Os Centros Urbanos ( Ed.Campus). O economista faz um cálculo de quanto aumenta o consumo de gasolina com carros eficientes, que andam muito mais com menos combustível. O uso de 1 litro de gasolina produz aproximadamente 2,6 kg de dióxido de carbono, o vilão do aquecimento global. Da minha casa até a Record News tem 3 kilômetros e o meu carro faz 9 km por litro de gasolina. Com um carro tão eficiente e confortável, considerando idas e vinda a minha reserva ambiental na Grande São Paulo, gasto 80 litros de gasolina por mês.  Logo produzo 2,080 kg de poluição. Sou um dos 7 milhões de motoristas que se engalfinham nos engarrafamentos de trânsito que chegam a mais de 200 km sob qualquer pretexto. De uma chuva de verão a uma véspera de feriado. Ou por motivo nenhum.
O paradoxo de Jevons põe em cheque uma boa parte das ações de sustentabilidade das empresas. Muitas apoiam sua contribuição para o consumo sustentável com aumento de eficiência. Mas isto não que dizer que, necessariamente, estão economizando energia ou matéria-prima. Em alguns casos, aumentam o consumo. É verdade que calibram um olho na economia que fazem nos insumos. A eficiência dos bebedouros em uma fábrica pode incentivar a corporação a instalar muitos outros e com isso aumentar o consumo de água. Por isso é preciso avaliar corretamente se a eficiência alcançada se traduz em diminuição do uso de insumos e se isto está corretamente explicado nos vistosos relatórios de sustentabilidade que são distribuídos todos os anos.

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